Debaixo de seu guarda-chuva, Camila esperava por Bruno no parquinho vazio. Ninguém se atreveria a sair de casa num domingo como aquele. A chuva fina parecia envolver tudo, tornando escuros os troncos das árvores e formando gotículas que mais pareciam diamantes, brilhando sobre o musgo aveludado do muro. O ar frio da manhã entrava-lhe pelas narinas, levando o cheiro de chuva para dentro dela.
Dissera a seus pais que precisava terminar um trabalho da escola, e que iria até a casa de sua amiga Mariana. Sua mãe, muito severa, ligara para a casa de Marina antes de Camila sair, para confirmar a estória da filha. Como ela tivesse apenas treze anos de idade, ainda achava que era muito cedo para que ela namorasse. Confirmada a estória ( Mariana era uma cúmplice fiel da amiga) , a mãe de Camila sorriu aliviada, e enquanto enrolava um cachecol em volta do pescoço da filha, disse-lhe:
“desculpe, querida, mas você está na idade de estudar, e não de namorar. Além do mais, esse Bruno já tem dezoito anos, é muito mais velho que você. Não daria certo. Agora vá, e não volte muito tarde. Te esperamos para o almoço”.
Camila beijou a mãe, despediu-se do pai , que lia o jornal na sala de estar, e partiu, carregando um livro de Geografia.
No parquinho, os balanços vazios balançavam, impelidos pelo vento. Ela permanecia de pé, pois era impossível sentar-se nos bancos encharcados. Logo, uma silhueta indistinta desenhou-se no meio da chuva fina e da neblina. Era Bruno. Vestia uma capa de chuva preta, e não trazia guarda-chuva. Ambos se abraçaram, sem nada dizer, e depois se beijaram longamente. Toda vez que ele a beijava daquele modo, Camila sentia um arrepio gostoso percorrer-lhe o corpo todo. Era sempre como se fosse a primeira vez.
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